Realmente, tem muito tempo que eu não escrevo algo aqui, né? Desde o início da pandemia.
Muita coisa mudou. Me mudei, saí da casa da minha família, fui promovido, fiquei à beira de um burnout, fui promovido de novo, gastei muito dinheiro que não poderia, ganhei muito peso, viajei, e muito mais.
Um dia, talvez, eu faça algum texto contando como foi esses “anos da pandemia”. Hoje, o foco é outro. O foco é Clube Atlético Mineiro.
Da última vez que vim falar sobre o Galo aqui era para reclamar, para extravasar e atacar toda a homofobia que cerca o esporte, principalmente o futebol.
Hoje, a pauta é outra. A luta contra os preconceitos continuam, sempre vão continuar, mas hoje, o texto é em tom de comemoração. Uma celebração pelo que acontece entre as quatro linhas.
No momento que escrevo este texto, o Atlético está a um empate de se consagrar Campeão Brasileiro. Um título chorado e sonhado por cinquenta anos, desde a conquista do seu primeiro campeonato brasileiro.
O Atlético, além de ser o time do “Eu Acredito”, sempre foi o time do “quase”, por diversos motivos diferentes.
Já perdemos título com arbitragem roubando, com tudo dando errado, com o time simplesmente perdendo peças, crises, e muitos outros problemas, mas uma coisa que nunca faltou foi vontade, raça e entrega.
Quando comparado com outros times do mesmo calibre (ou até mesmo com alguns inferiores), o Atlético não tem tantos títulos expressivos, e isso não tem problema, pois o galo tem história. Páginas e mais páginas recheadas de lutas, batalhas onde torcedores e atletas deram sangue e suor para a camisa alvinegra.
Hoje, 50 anos após a sua primeira grande conquista, estamos vendo nossos sonhos atleticanos serem realizados.
Claro, houve um investimento descomunal, mas dinheiro por dinheiro tem vários times ficando no caminho com 200 milhões, ou mais. Esse definitivamente não foi o único motivo.
“Ah, mas é um campeonato fraco”, não, não é. Quiçá é o mais disputado da história. O galo já bateu todos os recordes possíveis na questão de pontuação. Os últimos campeões garantiram os seus títulos com uma pontuação muito abaixo da que o time fez nesta temporada, provando mais uma vez que, dentro de campo, o Galo sobrou.
Até algumas rodadas atrás o campeonato estava sendo disputado pelo atual campeão brasileiro, pelo atual campeão da libertadores e pelo Galo, e mesmo assim, o time mineiro estava, — mais uma vez — , sobrando dentro de campo.
Galo meteu quinze, QUINZE vitórias consecutivas jogando dentro de casa no Brasileirão. Porra, isso NUNCA havia acontecido na história da competição. Ah, e invencibilidade em casa? 54 jogos, SÓ. E aí vai me falar que isso é tudo porque o “campeonato tá fácil” ou porque o time “só é bom porque tem o jogador X.” Sério?
O elenco tem suas peças de destaque, claro, mas nunca será um time de só uma estrela (agora, nem no escudo), temos atletas vindo das categorias de base, atletas que estavam em queda e até mesmo jogadores que eram promessas, mas nunca vingaram. Exceto no nosso “vingador”. No Galo, todo o elenco está trabalhando em prol do sonho atleticano. O sonho que foi motivo desse choro engasgado do maior ídolo atleticano, Reinaldo.
No último texto sobre o Atlético eu expliquei quem era o Reinaldo. Como disse lá também, eu não sou a melhor pessoa para falar sobre história de um clube de futebol ou algo do tipo, pois não me dedico tanto assim a modalidade, mas o que o Reinaldo representa não só para o futebol, mas para a sociedade merece ser lembrado a todo tempo.
Reinaldo veio da base atleticana, o “juvenil”, como diziam na época. Reinaldo foi militante negro, caçado pela ditadura. Reinaldo teve suas chances na seleção destruídas por ser militante, acreditar nos ideais dos Panteras Negras e por ser um “degenerado”, aos olhos do governo ditatorial militar só por ter amigos gays.
O “Rei”, como é chamado pelos atleticanos, encerrou sua carreira precocemente por uma série de lesões, ele lutou até o fim para dar glória ao seu Clube do coração, e agora, ao ver o Hulk, uma peça de referência do elenco atual, comemorar com o punho ao alto, gritar “Aqui é Galo, porra!” e dedicar este título a todos aqueles que passaram… Porra, é impossível não se emocionar.
É um choro guardado por cinquenta anos. Um choro por todos os atleticanos que passaram e aos que ficaram. Lágrimas por todos aqueles que não puderam ver este título, que não sobreviveram até este momento.
Eu queria muito poder ter vivido essa campanha da melhor forma, ido ao estádio, gritado e comemorado como eu deveria, porém, ainda não estou seguro com aglomerações deste porte.
Mas onde eu estiver, eu estarei chorando junto por este sonho, que agora está cada vez mais perto de se tornar realidade.
Quero terminar este texto com uma pergunta bem simples a vocês:
E o Galo?
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