Ah os serviços de streaming… que tecnologia maravilhosa.
Como o Spotify facilitou minha vida me obrigando a pagar uma grana mensal para poder ter acesso a todos os álbuns que eu queria, na hora que eu queria, sem correr o risco de pegar um vírus através do Ares.
A primeira vez que eu entrei em contato com esse aplicativo foi em 2014, rapidamente eu me apeguei até que a maldita propaganda da Cornetto me fez pagar o premium… sério, era isso ou perfurar meus tímpanos.
Quando comecei a utilizar mais o spotify eu percebi que gostava de fazer uma coisa: playlists.
WOLLY 2014 acho que foi a minha primeira criação. Ela era para ser uma lista com as músicas que mais escutava em 2014, e a partir disso, uma tradição que dura quase 4 anos se iniciou.
O spotify me apresentou um lado que eu não conhecia. Claro, eu sempre gostei de música, mas nunca entendi isso direito, e ao fazer essas listas eu fui me conhecendo.
Percebi que sou eclético.
Descobri que não consigo fazê-las para atividades pois perco a concentração realizando as atividades (como academia, skate, playlist de sexo).
E mais importante, aprendi que elas dizem muito sobre como eu vivi cada ano.
Atualmente, minhas playlists no Spotify estão divididas em 4 pastas: Uma com as playlists principais de cada ano (as cronológicas), outra com as playlists de bad, uma pasta para as listas de terceiros e a última contendo as temáticas, baseadas em estilos musicais.
Mas vamos focar nas principais, pois elas são o meu “diário”.
Todas as playlists além de conter músicas que eu escutei durante todo o ano, elas entregam bastante da minha personalidade, jeito e aflições naquele período.
De 2014 até 2017 haviam duas músicas que eram quase constantes nas playlists cronológicas.
1: Don’t let me be Misunderstood — Santa Esmeralda.
Essa é a música que toca durante a luta da O-Ren Ishii (Lucy Liu) vs. A Noiva (Uma Thurman) em Kill Bill vol. 1
Essa música marcou eu e meus amigos, se tornando icônica ao ponto que em 2014 quando nos reaproximamos, essa trilha era algo que sempre revivíamos. A sua escolha para a luta final de um filme como Kill Bill parecia ser tão estranha… Mas a letra tinha um significado tão profundo que acabei adotando essa música como um mantra pessoal.
’Cause I’m just a soul whose intentions are good
Oh Lord, please don’t let me be misunderstood
Porque eu sou só uma alma que as intenções são boas,
Oh senhor, por favor não deixe eu ser mal entendido.
Eu não sei quando eu comecei a gostar de Kill Bill nem quando assisti a primeira vez, sei que era novo e que a sala aqui de casa estava cheia de familiares, naqueles raros momentos de confraternização.
Mas a letra dessa música só me puxou depois da minha adolescência. “Don’t Let Me Be Misunderstood” e o fato de ter pessoas próximas que se identificavam com essa música acabaram me mostrando que por mais piegas que seja, eu não estava sozinho nesse medo, nessa insegurança e nessa culpa por sempre me expressar mal.
A segunda música por sua vez é bem diferente.
2: The Boys Are Back In Town — Thin Lizzy.
Tudo começou com um artigo na Vice que caiu no meu colo.
Eu não sei como entrei em contato com esse artigo, eu não sei como ele surgiu, eu só sei que em algum lugar no Brooklyn, alguém possuía o mesmo senso de humor que eu e meus amigos.
“The Boys Are Back In Town” virou um meme no meu círculo social.
Toda festa que éramos convidados e a playlist era aberta, haveria no mínimo 30 versões dessa música escondidas pela playlist.
E em 2014, quando me vi junto dos meus amigos que fiz lá no maternal e que eram meus irmãos até os 20 anos, eu entendi que os garotos haviam voltado à cidade.
Ela deixou de ser um meme e virou um hino que nós cantávamos, batíamos no peito e nos abraçávamos toda vez que essa música surgia nas playlists que manipulávamos de festas ou até mesmo casualmente no rádio.
Quando essa música tocava em uma festa, era um evento. Todo mundo (de saco cheio pela repetição) observava nosso grupo se abraçando em uma felicidade que tinha um único motivo: estarmos juntos.
Eu me sentia parte de algo.
De WOLLY 2014 à WOLLY 2017 essas duas músicas estavam presentes, mostrando que esses ideais nós carregávamos juntos durante todos esses anos.
Em WOLLY 2018 somente “Don’t Let Me Be Misunderstood” está presente.
Me dói escutar “The Boys Are Back in Town” no rádio, porque os garotos nunca mais vão voltar para aquela cidade, pelo menos não juntos.
Desde o final de 2017 que os garotos não estão juntos.
Desde 2017 que parece que os garotos estão em cidades diferentes, vivendo vidas diferentes e voltando para cidades diferentes com amigos diferentes.
Os garotos nunca mais vão voltar.
Venho fazer um edit em 1/1/2025.
Os garotos, ao menos alguns deles, voltaram aquela cidade.